Paz?

Amapô aqui do escritório hoje, vendo que eu estava rodopiando a xoxota no dedo de raiva, logo na segunda, depois de ter sido amassado no metrô, empurrado e jogado a toda sorte de problemas e constrangimentos, logo cedo:

- Menino, você tem que ter mas paz no seu coração.
(Cara de 'Bárbie na caixa' pra ela)
- Você pensa muito em tragédias, desgraças, não pode.
- Você deveria pensar em paz.
- Pensar em coisas boas, traz coisas boas!

Aí depois de tanto elas me espezinharem, eu disse:
- Vamos pensar em paz então? É paz que você quer? é paz que eu te dou! Eu vou pro alto da cidade, e lá da torre do Banespa, eu estenderia minhas mãos e uma onde gigante viria lá da zona leste, em plena Radial Leste, levando carros, vagões de metrô cheios, invadindo shoppings e prédios, vans lotadas de pobres, tudo, absolutamente, ALL a minha frente. Da zona Sul, outra onda viria varrendo a avenida 23 de Maio, pensa naqueles milhares de carros do engarrafamento sendo tragados, levados, ônibus cheios, prédios, torres, tudo sendo misturado como num grande liquidificador gigante, pensa?

(enquanto dizia apontava o dedo pro ar e fazia cara de messias)

Da zona Oeste, outra onda, varrendo a Vila Madalena, os Jardins, a doutor Arnaldo - como eu odeio o transito de lá - a Rebouças, a Paulista, o Hospital das Clinicas, pense em caos, medo, apreensão, desespero, pavor!
Mas o melhor viria da zona Norte, o terminal Tietê sendo atingido pela enxurrada, aqueles imensos pacotes boiando junto com as pessoas, onibus vindos de todas as partes do país rolando junto a escombros e destroços em plena Avenida Cruzeiro do Sul, a estação da Luz, sendo destruída, os pobres avistando aquela onda gigante vindo sobre a plataforma e levando todos sem que pudessem NOTHING fazer, seria um 2012 apocalíptico! Após horas de ondas imensas varrendo a cidade e todos os seus milhões de moradores, eu poderia ver aquele mar, calmo, para onde tudo foi dragado, sem buzinas, sem gritos, sem empurra-empurra, sem mais NOTHING. Seria, emfim, paz. Somente paz. Um imenso silêncio, uma imensa calma. Está bom pra você?

Ela horrorizada com aquela hecatombe humana jamais pensada contra a Terra, que acabei de proferir, recolheu a sua mesa e não disse mais uma palavra desde então:

-Tá vendo, eu evito chocar as pessoas, mas elas me provocam!